23 novembro 2007

Naqueles dias...

A vida passa depressa. Ou se calhar somos nós que passamos por ela depressa demais.
Uns chegam cá, passam pela vida e vão-se embora sem deixar rasto, nem revolta do muito ou pouco tempo que durou ou poderia ter durado, a sua estadia por cá.
Outros chegam e depois de terem ido, acham que se foram embora cedo demais, pois certamente teriam muito mais para aproveitar. Embora durante a sua estadia aqui não tenham feito muito mais para que isso acontecesse.
E ainda há aqueles que chegaram e tentam a cada minuto aproveitar aquilo que a vida tem de bom para lhes oferecer. Sugam sofregamente cada chance, cada oportunidade para serem felizes, abrem todas as portas que se lhes atravessam em busca da diversão e do verdadeiro prazer de viver, não se contentando com pouco. São lutadores ferozes nas suas convicções de que o tempo por cá é pouco, e tem de ser bem regido e orientado para dele ser tirado todo o proveito.
Todos nós deveríamos de certa forma, enquadrar-nos nesta última categoria e não permanecer apáticos perante a vida a passar-nos à frente dos olhos, como um comboio que não espera. E que nem quando ele pára para entrarmos, nos damos ao trabalho de o fazer, ficando na plataforma sempre a pensar em qual deveríamos mesmo entrar.

Há dias que nos fazem pensar nestas coisas e no quanto levamos connosco desta vida.
Muito? Pouco? Menos do que queríamos realmente?
Sintomas desse tipo de sentimento da passagem do tempo acontecem naqueles dias…

… naqueles dias em que sentimos que foram um grande dia! E que os aproveitámos mesmo bem até ao fim. Que tivemos boas conversas com pessoas que até vemos regularmente, ou todos os dias, mas que naquele dia soube especialmente bem!

… naqueles dias em que revemos várias pessoas juntas que gostamos e que já há muito que não as víamos, recordando momentos bons e pondo a conversa em dia. Estes dias tendem a tornar-se cada vez mais raros devido à vida que cada um segue no seu caminho individual, e que normalmente não se coaduna com a tentativa de manter as amizades antigas.

… naqueles dias em que vemos pessoas que até costumamos ver regularmente, mas por acaso daquela vez já não as víamos há muito, e parece que temos os acontecimentos de um ano para contar de enfiada!

… naqueles dias em que revemos aquela pessoa que já não víamos desde o ano passado, e em poucas horas fazemos um resumo e balanço de mais um ano que passou… e que para o ano voltaremos a fazer o mesmo…

… naqueles dias em que nos apetece partilhar os nossos pensamentos e experiências com todos! Dias que estamos eufóricos e nos apetece espalhar essa alegria com quem encontramos!

… naqueles dias em que pensamos se as nossas escolhas de vida foram realmente as mais acertadas, ponderando as vantagens e desvantagens que acarretaram… Ao fim de quatro anos penso, será que a opção X teria sido melhor que a Y? Será que alguma coisa tinha sido diferente? Será que tudo teria tomado o mesmo rumo?

… naqueles dias em que sentimos que estamos realmente a fazer uma coisa que gostamos, mas que a velocidade que exigem que façamos as coisas, nos faz sentir oprimidos e pensar se isso realmente compensa no final… E qual a necessidade de tanta pressa? Se depois em outras coisas se demora tanto tempo… Qual a necessidade de relegarmos para segundo plano coisas que também gostamos de fazer, e que nos dão prazer, em prol do cumprimento de horários? Isso é qualidade de vida?

… naqueles dias que souberam mesmo bem, e que por isso, ainda nos fazem mais nostálgicos do sentido da passagem do tempo… pois para além de já estarmos com saudades de tantas coisas boas que aconteceram, os dias bons ainda reforçam mais esse sentimento… parece que de repente tudo assola à memória…

… naqueles dias em que sentimos que as coisas estão a passar depressa demais, e que quase não os conseguimos absorver por tanta coisa que nos rodeia, que quase nos apetece fazer um registo de tudo aquilo, para depois lá podermos voltar quando quisermos.
Mas o verdadeiro registo de pensamentos é quando os temos. E apesar de os querermos registar quando os sentimos, e tal como os sentimos, quando o fazemos, nesse registo já não vai transparecer a mesma intensidade com que os sentimos pela primeira vez…

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