17 janeiro 2015

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"Não é o que você juntou, mas sim o que você espalhou, que reflete como você viveu a sua vida..." 

07 janeiro 2015

Relacionamentos...


Há dois tipos de relacionamentos: os do tipo ténis e os relacionamentos do tipo frescobol.

Os relacionamentos do tipo ténis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal.

Os relacionamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. 
Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.

Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade de um relacionamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você acha que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice”?

Tudo o mais num relacionamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

Sheerazade sabia disso. Sabia que os relacionamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme “O Império dos Sentidos”.

Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.

O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música.

A música dos sons ou da palavra, é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.

Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras.

E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo...”

Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatómica, mas em sua nudez poética”.

Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.

O ténis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se ténis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua “cortada”, palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.

O prazer do ténis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.

Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o ténis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.

Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la direita, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.

Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos... 

A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.

Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem ténis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

Ténis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...

O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.

Aqui, quem ganha, perde sempre.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.

Bola vai, bola vem… cresce o amor...

Ninguém ganha para que os dois ganhem.

E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

Ruben Alves