27 julho 2010

Noite cálida...


Noite escura como breu… céu negro brilhante, pontilhado por estrelas cintilantes que guiam e nos seduzem pelas suas constelações hipnotizantes… não há mais luz a não ser as estrelas e a lua.

Lua cheia e reluzente… a mãe rainha do céu da noite.

Noite quente e escura, iluminada por estrelas e uma lua cheia reflectida no mar calmo que nos perturba os sentidos.

O som de fundo das ondas a bater nas rochas, da água salgada a beijar a areia, provocando-lhe ainda mais sede… e mais… e mais…

E a visão cruelmente bela de uma maré cheia prateada por uma Lua que impõe uma presença majestosa.

E de cá de cima se observa este terrível espectáculo nocturno… de uma simples e miserável cabana com telhado de colmo… no seu alpendre, numa cadeira de palhinha à beira-mar….

Foi numa noite cálida de Luar…

21 julho 2010

Fast car...


You got a fast car

I want a ticket to anywhere
Maybe we make a deal
Maybe together we can get somewhere
Anyplace is better
Starting from zero got nothing to lose
Maybe we'll make something
But me myself I got nothing to prove

You got a fast car
And I got a plan to get us out of here
I been working at the convenience store
Managed to save just a little bit of money
We won't have to drive too far
Just 'cross the border and into the city
You and I can both get jobs
And finally see what it means to be living

You see my old man's got a problem
He live with the bottle that's the way it is
He says his body's too old for working
I say his body's too young to look like his
My mama went off and left him
She wanted more from life than he could give
I said somebody's got to take care of him
So I quit school and that's what I did

You got a fast car
But is it fast enough so we can fly away
We gotta make a decision
We leave tonight or live and die this way

I remember we were driving, driving in your car
The speed so fast I felt like I was drunk
City lights lay out before us
And your arm felt nice wrapped 'round my shoulder
And I had a feeling that I belonged
And I had a feeling I could be someone, be someone, be someone

You got a fast car
And we go cruising to entertain ourselves
You still ain't got a job
And I work in a market as a checkout girl
I know things will get better
You'll find work and I'll get promoted
We'll move out of the shelter
Buy a big house and live in the suburbs

I remember we were driving, driving in your car
The speed so fast I felt like I was drunk
City lights lay out before us
And your arm felt nice wrapped 'round my shoulder
And I had a feeling that I belonged
And I had a feeling I could be someone, be someone, be someone

You got a fast car
And I got a job that pays all our bills
You stay out drinking late at the bar
See more of your friends than you do of your kids
I'd always hoped for better
Thought maybe together you and me would find it
I got no plans I ain't going nowhere
So take your fast car and keep on driving

You got a fast car
But is it fast enough so you can fly away
You gotta make a decision
You leave tonight or live and die this way...

13 julho 2010

Rossio, a Ginjinha e a Embaixada da Guiné


A ginjinha é uma instituição em Portugal. Há pomares inteiros plantados de cerejas, cujos frutos estão reservados à sua transformação em álcool a 23º.

Ao centro, três ou quatro torneiras disputam os clientes de origem variada: velhos lisboetas encarquilhados (em linguagem popular, o termo ginja significa também um velho magro e enrugado), turistas de todos os quadrantes, trabalhadores com pressa de regressar a casa mas que gastam trinta segundos para beber um copo, e africanos.
A tendinha fica no Largo de São Domingos, praceta satélite do largo do Rossio e quartel-general dos guineenses que aí se encontram. Apesar de os africanos serem mais apreciadores de cerveja, muitos são aqueles que entram na tasquinha para emborcar um cálice de licor vermelho, tão depressa como os tradicionais clientes portugueses.

O costume vem já de meados do século XIX.
A tasca está aberta das 9h30 às 22h. O trabalho do empregado consiste em despejar o licor em copos grandes ou pequenos, perguntando previamente se o cliente deseja "com elas" ou "sem elas": as ginjas.
Reclames na parece opõem o bebedor "bon vivant" ao abstémio macilento.

Os negros aqui fazem negócios, tráfico. Com esta esquerda socialista que lhes escancara as portas, os clandestinos não param de chegar. É aqui mesmo que se processa o tráfico de documentos falsos.
Onde melhor se apreende a presença africana em Lisboa é precisamente no Rossio.
Antes de adquirir uma maiúscula, o rossio era um espaço público onde havia feiras e mercados. Era aí que se fazia a ligação entre o campo e a cidade, onde se manifestavam as alegrias e as cóleras do povo.

Após vários séculos de transformações, tendo-se tornado uma zona central, o Rossio continua a ser o ponto de encontro entre a cidade e a periferia, o cruzamento das classes trabalhadoras.
Os africanos que vêm de barco da margem Sul, que chegam de comboio doa bairros da linha de Sintra, ou que descem dos autocarros que vêm dos subúrbios, encontram-se todos aqui.
O Rossio não consegue escapar ao outro africano. É o ponto da cidade em que a sua visibilidade cromática mais se faz notar. E isto já vem de longa data.

Mesmo em frente à porta da tendinha, o Largo de São Domingos, à sombra da Igreja do mesmo nome, poderia passar por um espaço de debate saheliano, o terreiro de um chefe de aldeia. Contudo, ninguém escuta os conselhos de um orador exclusivo. As conversas repartem-se por dezenas de pequenos grupos. Discussões animadas, negociações, combinações; o telemóvel alarga o campo da comunicação, é o oráculo, escuta-se a sua voz distante.
É o escritório a céu aberto; trata-se dos assuntos, da integração dos recém-chegados, tentam resolver-se problemas de documentação legal.
Chama-se a este sítio embaixada da Guiné.

Ao longe, uma oliveira solitária dialoga com um pinheiro de elevada estatura. Que conversa poderão ter duas árvores urbanas regadas por uma fila de táxis?

A rua que desemboca no Largo de São Domingos tem uma série de lojas dedicadas às beldades africanas, bancadas de frutos e legumes da família tropical, mandioca, quiabo, batata-doce...
A esplanada do café Lyrio passaria facilmente por uma esplanada de Bissau.
Curiosamente, os guineenses tomaram conta do perímetro que, durante séculos, foi o dos caiadores negros.
Caiar as paredes das casas era apanágio dos escravos desde o século XVI. Escravos homens, sobretudo, mas também mulheres. Circulavam pelas ruas, oferecendo os seus serviços, carregando escada, balde e trincha. Andavam vestidos de branco ou com roupas cobertas de caliça.
Na realidade, postavam-se sobretudo no Rossio, a aguardar clientes. Sabemo-lo porque um decreto de 1837 quis proibir esse hábito de reunião. Em vão, visto que em 1889 o etnólogo J. Leite Vasconcelos garante que ainda os havia.
Há até uma expressão popular que se diz a um importuno: "Pára lá de chatear, vai pintar o céu do Rossio!"

Portanto, os guineenses apoderaram-se de um território marcado simbolicamente e prolongaram um costume muito antigo.
Acresce uma razão pragmática: a implantação de centrais telefónicas internacionais nessa zona. Manter o contacto com a terra é uma das preocupações quotidianas e, nos passeios do Rossio, trocam-se informações sobre a forma de pagar mais barato as chamadas.
O Rossio tornou-se uma placa giratória de um tráfico de comunicações telefónicas...

04 julho 2010

28


O amarelo da Carris,
vai da Alfama à Mouraria, quem diria!
Vai da Baixa ao Bairro Alto, trepa à Graça em sobressalto, sem saber geografia...

O amarelo da Carris, já teve um avô outrora, que era o Chora
Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora

Entram magalas, costureiras, descem senhoras petulantes
Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes

Quero um de quinze p'rá a PampuiaJá é mais caro este transporte
E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte!

O amarelo da Carris,
tem misérias à socapa, que ele tapa
Tinha bancos de palhinha, hoje tem cabelos brancos, e os bancos são de napa

No amarelo da Carris já não há "pode seguir" para se ouvir
Hoje o pó que o faz andar, é o pó Tulavadar, com que ele se foi cobrir

Quando um rapaz empurra um velho ou se machuca uma criança
Então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa

E quando a malta fica à espera
... é que percebe como é
Passa à pendura, o pendura que não paga e não quer andar a pé

O amarelo da Carris, já teve um avô outrora, que era o Chora
Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora

Quando um rapaz empurra um velho ou se machuca uma criança
Então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa

Entram magalas, costureiras, descem senhoras petulantes
Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes