20 agosto 2008

Rancho do Amor à Ilha


Um pedacinho de terra perdido no mar
Num pedacinho de terra, beleza sem par…
Jamais a natureza reuniu tanta beleza
Jamais algum poeta, teve tanto para cantar…

Num pedacinho de terra, belezas sem par
Ilha da moça faceira, da velha rendeira tradicional
Ilha da velha figueira, onde em tarde fagueira vou ler o meu jornal

Tua lagoa formosa, ternura de rosa, poema ao luar…
Cristal onde a lua vaidosa sestrosa, dengosa vem se espalhar…


Cláudio Alvim Barbosa

Rancho de Amor à Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil

16 agosto 2008

Pensamentos...

Há tantas coisas em que pensar… às vezes até nos perdemos em pensamentos de como conseguimos pensar tanto, tão intensamente e profundamente… às vezes de tanto pensarmos que estamos a aproveitar uma coisa, até nos esquecemos de a aproveitar realmente!
Mas na verdade, gozamo-la porque pelo menos sentimos que a aproveitamos.
Muita coisa nos faz pensar… não é?
Menos aquilo que não vale a pena.
Claro.
Mas o que nos faz pensar já torna o motor cá dentro num turbilhão de ideias sem princípio nem fim!
Coisas que surgem em cadeia, se tangenciam e intersectam com outras que também se formam em cadeia…

Pensamos em muita coisa mesmo quando não transparecemos isso.
Às vezes pensamos coisas complexas, mas acabamos por não as transmitir.
Simplesmente porque achamos que não as conseguimos transmitir da mesma forma como as pensamos.
E para transmitir uma ideia errada e deturpada, mais vale não o fazer.
E então ficamos apenas por aí. Com o pensamento apenas para nós mesmos.

Tantos sítios que fazem pensar tanto… às vezes os mesmos que fazem pensar pouco e apenas sentir o espaço e deixar-se ir pelas sensações que ele nos transmite…
Depende de muita coisa.
Muita coisa que vai para além de nós e daquilo que conseguimos estar cientes do que é.

E muitos desses sítios, por mais tempo que passe, não serão nunca esquecidos…

Nem mesmo o cantinho do degrau e o bocadinho de parede que permitem um simples encosto e o estar num lugar verde, sonhador e em paz… observando a calma e os aviões a aterrar…



12 agosto 2008

Tudo


Tudo começa e acaba.

Tudo tem princípio, meio e fim.

Tudo é um ciclo.


Todas as coisas têm um princípio, um meio e UM fim.



Todas.





05 agosto 2008

Lá vai ele...


E lá vai ele… lentamente caminhando… debaixo do sol escaldante do meio dia…

Lá vai ele à beira-mar… arrastando os pés na areia ardente… magro, de braços e ombros carregados…

Dia após dia… ali vai ele… Negro como o ébano na noite… Veio do Senegal, tentar uma vida melhor… O irmão ficou-se por Cabo Verde…

Caminha devagar e pacientemente… transportando fios, pulseiras, malas, óculos de sol que pretendem realizar os sonhos de quem os comprar, e outras coisas para vender…

Sim, coisas. Objectos.

Coisas que os outros só compram se quiserem… e no entanto, é o único meio de sobrevivência dele.

E lá continua ele… a caminhar ao sol na areia, por entre as pessoas, perguntando se querem algo…

Todos abanam a cabeça, esperando que se afaste o mais rápido possível.

Ninguém lhe liga.

Ninguém pensa na vida que ele tem.

Ninguém percebe que a sobrevivência dele é feita através dos luxos dos outros, de ornamentos e enfeites… coisas que estes só querem às vezes… quando lhes apetece.

Mas quererem ou não, para ele pode fazer muita diferença!

Lá vai ele outra vez…

Onde será que ele vai dormir hoje?

Será que tem uma cama?

Terá ao menos um tecto?

E lá vai ele… uma vez mais…





04 agosto 2008

Lugares desumanizados…


Sem dúvida que as cidades são um conjunto de coisas boas! Caso contrário essas coisas não se iam aglomerar todas nas cidades. As cidades são sempre os grandes centros de emprego, o ponto de encontro para tantas coisas, os grandes centros de cultura e de conhecimento, onde tantas ideias confluem…

No canto oposto estão todos os problemas associados às grandes cidades… elas são um poço de stress, tudo tem de andar a correr para chegar a tempo na cidade… são uma fonte de criminalidade, insegurança, medo, ainda para mais, agora desertas à noite, parecem cidades-fantasma… são um cancro!

As pessoas diariamente trabalham na cidade, quando anoitece “correm” para as milhares de gavetas nos subúrbios onde dormem.

Essas massas de betão, nas quais as pessoas que lá vivem são apenas “máquinas” de trabalhar, comer e dormir. Não há mais interesses para além da sobrevivência… Aqui as pessoas não são importantes por aquilo que são, mas pelo que produzem em trabalho. São estatísticas.

E é triste saber que muitas dessas pessoas que “vivem” nesses locais, vieram de sítios lindos… de países que têm tudo o que qualquer pessoa anseia… paz… beleza natural… ar puro… calma… E a prova é que escolhemos esses mesmos sítios para lá ir passar férias, para fugir do stress, e sair das gavetas em que estamos durante todo o ano!

Eles vem “viver” para os sítios dos quais nós queremos fugir… E nós nas férias fugimos para os sítios onde eles viviam…

Mas voltando atrás aos sítios das gavetas… Esses sítios sem vida diurna, que apenas funcionam como dormitório. Tem pouco desenvolvimento daquelas actividades que florescem organicamente, e que normalmente dão vida aos sítios onde estão… comércio, serviços… os que lá há são forçados porque veio uma onda gigante de gente para ali dormir, e quando chega do trabalho tem de ir comprar qualquer coisa para o jantar…

Mas esses pequenos estabelecimentos de comércio e serviços também de dia estão desertos… porque a onda de gente foi toda de manhã trabalhar para a cidade enlatada nos transportes… situados muitas vezes em pequenas galerias comerciais de má qualidade… túneis onde as pessoas se esgueiram como toupeiras, pouco iluminados… onde os velhotes cada um individualmente vão beber o seu café e ler o jornal, sob a luz fluorescente com vista para as promoções baratas da loja da frente. Que belo cenário! Tal e qual os velhotes que nas aldeias alegremente conversam ao solinho da manhã… à hora de almoço descansam à sombra da árvore da aldeia onde todos se reúnem… e à tarde sentam-se a falar e ver o pôr-do-sol… e ficam ali até lhes apetecer…

Tal e qual… tal e qual na cidade!

De manhã anda-se à pressa para chegar rápido ao trabalho, ao almoço come-se qualquer coisa rápido para matar a fome e continua-se a trabalhar até o sol se pôr… à noite para se “descansar” um bocadinho vai-se com a família ao centro comercial… porque passear nas grandes cidades à noite é muito inseguro! E assim, entra-se no centro comercial de carro, sai-se de lá de carro, nem se cheira o ar da noite, mas isso também não faz mal… E o descanso lá dentro consiste em ver cubículos com luzes fluorescentes e objectos a faiscar a pedir e a implorar que os consumam…

Não interessa que não se veja nem se aprecie a bela paisagem dos centros históricos das cidades… não interessa que o magnífico espaço público dos centros das cidades fique esquecido e que não se lhe dê uso… o que interessa é “estar a salvo”. E com sorte ao vir embora, o parque de estacionamento é subterrâneo, nem dá para ver a luz da lua… o caminho até ao dormitório é feito por túneis que nem dá para ver as estrelas no céu… e passagens desniveladas que cortam toda a lógica de qualquer percurso… e nas grandes cidades e áreas metropolitanas é assim… o motor trabalha sempre assim…

E nas cidadezinhas do interior, catitas, acolhedoras, confortáveis e calmas? A vida também é assim? Não? Não há estes problemas? Hum… então se a sociedade das grandes cidades é assim tão pouco afável… a vida das grandes aglomerações urbanas é tão agressiva… nos meios rurais e pequenas cidades do interior isso nada acontece… porque não ir para lá? Porquê continuar a torturar-se nestes meios urbanos desumanos, que tornam caótica a vida das pessoas?

Não é difícil perceber que os locais mais recatados e longe das grandes aglomerações urbanas são melhores… basta ir lá… e sentir… esses sítios evocam-nos memórias de coisas a que não assistimos, apenas pelos espaços que têm… e o que sentimos ao ali estar neles…