22 janeiro 2008

Com lágrimas nos olhos…

Às vezes, quando menos esperamos, temos momentos tão doces, ternos e tão ricos em sentimentos, com pessoas que nos amam tanto…
E nós, muitas vezes com o stress do dia-a-dia e com a rotina do quotidiano, acabamos por nos “esquecer” delas...
No entanto, essas pessoas, embora já numa fase de vida mais avançada e sem nada para fazer, afirmam-nos sem qualquer vergonha que se lembram de nos várias vezes por dia, interrogando-se como estamos, se estamos bem, esperando que tudo vá pelo melhor connosco, mesmo que não nos telefonem a perguntar.
Interiormente desejam-nos tudo o que pode de haver melhor na vida e que tenhamos tudo o que eles não tiveram…
Levaram a vida a trabalhar para um futuro melhor e para ajudar os filhos e os netos.
Amam-nos incondicionalmente e muitas vezes superam-se a si próprios ao ponto de se continuarem a esforçar para o bem-estar dos seus descendentes, sem pensar uma vez que seja, em si próprios e em como já estão desgastados pela vida, pelo sol, pela idade… e que agora é a vez de eles descansarem e de serem tratados por nós, como nós outrora já fomos tratados por eles…

Ansiosos todos os dias pela visita semanal que lhes fazemos, quando nos vêem abre-se um sorriso de felicidade no seu rosto… e nos olhos a brilhar de emoção, podemos ver o valor que temos para eles, o quanto significamos nas suas vidas, o quanto os fazemos felizes… e a alegria e paz que enchem os seus corações aos ver-nos.
Nem imaginamos o valor que essas pessoas dão a cada minuto que estamos com elas… para elas é uma bênção! E a felicidade que têm nesses momentos transparece-lhes no olhar, como a água no seu estado mais puro.

E vêem-me as lágrimas aos olhos quando penso em tudo isto e no quanto tempo da nossa vida já desperdiçámos, e que poderíamos ter aproveitado a estar com essas pessoas.
Nós jovens, temos 19, 20, 21 anos… e por aí… “somos novos”, “ainda temos uma vida inteira pela frente”, “ainda estamos no início da vida”… não damos nem uma vez valor ao que pode representar um ano na vida de uma pessoa mais velha…
Eles, mais velhos, conscientes de que já não vão durar muito, afirmam isso mesmo sem qualquer espanto. Estão cientes daquilo por que já passaram, dos problemas que já têm derivados à velhice e do corpo já começar a fraquejar, cansado das vezes que já viu o sol nascer…
Essas pessoas dão valor a cada dia que passa, apenas esperando que chegue o próximo… contrariamente aos jovens que se dizem ainda “novos” e com “a vida pela frente”…
Como nos enganamos… nem imaginamos o quanto estamos errados…

Com a estúpida rotina do quotidiano, muitas vezes nem damos valor a estas pessoas que nos são muito queridas, quase nos esquecemos delas em prol dos afazeres, dos horários, do trabalho, da hora de jantar… esquecendo que as pequenas coisas, os sorrisos, a ternura e os carinhos, contam muito mais…

Porque não pensamos mais, antes de continuar cegamente a correria do dia-a-dia, no que levamos connosco desta vida?

...


E é nos momentos que passo com o meu avô, que as minhas raízes sorriem… em que ele me conta histórias de quando era novo, de quando era criança, como era a vida dele, como desde logo cedo foi trabalhar para o campo de sol a sol, como se fazia a apanha da uva no tempo dele, como era o tratamento da uva nos lagares e nas adegas…
Histórias que fazem sorrir o meu coração e comover a minha alma…

Muitas vezes, como sempre vimos os nossos avós como sendo mais velhos, quase que achamos que sempre foram assim. Quase que criámos essa imagem desde crianças, e nem pensamos que também foram novos, e que também tiveram pai e mãe.

Ontem, o meu avô andou comigo pela sua casa a passear, e a entrar nas várias divisões, mostrando-me calmamente e sem pressa, cada foto que estava exposta… algumas já antigas e gastas pelo tempo…
Deambulou comigo, e deteve-se calmamente em cada fotografia que observava, fixando-se e recordando o momento em que ela fora tirada, como se aquele pedaço de papel guardasse um pedaço de vida nele…

E o que mais me comoveu foi a veneração e a estima que ele tinha para com a foto do pai… e o quanto desejava também ter a foto da mãe…
E já com lágrimas nos olhos me confessou que todos os dias antes de se deitar, olhava o seu pai, venerando por momentos a fotografia daquele que lhe deu vida, e que ainda hoje guarda no coração…




Pena que a expressão “aproveita cada dia como se fosse o último” não possa ser levada à letra… Porque se eu soubesse que hoje era o último dia da minha vida, tinha ido ter com o meu avô…

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