17 maio 2009

We've never been so many! And we've never been, so alone...


Cada vez somos mais pessoas no mundo. A população cresce progressivamente. Tudo vai mudando à medida que o tempo passa.
Bem, nem tudo. Algumas coisas vão melhorando, outras piorando, e há outras que praticamente estagnam. E é com alguma curiosidade que estes três processos coexistem.

Afinal, já vivemos num mundo tão evoluído, repleto de requintes tecnológicos, onde a investigação científica se encontra altamente sofisticada, onde se utilizam os mais modernos métodos para qualquer coisa por mais pequena que seja... e depois há coisas que realmente continuam iguais, e outras que por outro lado até pioraram.
O que acaba por ser irónico, porque tentamos sempre evoluir para melhor, e simultaneamente há coisas que estão a ter uma evolução negativa.

Na verdade, nem sempre as novas tecnologias trazem coisas positivas. Hoje em dia, temos o nosso quotidiano repleto de tecnologia em todas as direcções para onde olhamos. Temos as nossas casas repletas de engenhocas modernas, tudo o que se faz de novo tem de ser com alto valor tecnológico incorporado, etc. Estamos impregnados de tecnologia para qualquer lado que nos viremos...

E para qualquer lado que nos viremos há alguém a um canto, absorto a jogar os jogos de telemóveis... Há alguém numa esquina com os phones a ouvir música no mp3 (que entretanto já é mp4)... Há alguém sentado num banco agarrado à playstation (que agora também já é portátil) a carregar freneticamente nas teclas... Há alguém de pernas cruzadas com o portátil no colo petrificado a ver um filme... Há alguém a fazer compras num supermercado a pagar as coisas numa caixa self service....

Muita tecnologia! Sim, realmente não há dúvida! Fazemos tudo em todo o lado, somos tão independentes e avançados! Estamos super modernos, dotados da maior tecnologia nos mais variados níveis!
Mas o que há em comum entre todas estas pessoas?
Todas usam tecnologia da mais avançada e cada uma tem objectos diferentes que permitem fazer inúmeras coisas...
Hum humm... Certo. Tudo bem. Até aí já tínhamos chegado.
E mais?

O que há mais em comum em todas estas pessoas?

Todas elas estão sozinhas.

...


A tecnologia existe. A tecnologia é importante. Sem ela se calhar não teríamos evoluído até certo ponto que nos permite ter uma qualidade de vida adequada ao ser humano.
Disso não há dúvida.
Mas será que precisamos de continuar e continuar a evoluir cada vez mais rápido ao nível tecnológico? Será que ainda é possível impregnar as nossas vidas de mais artimanhas e engenhocas todas modernas?
Até que ponto de "vida tecnológica" estamos a tentar chegar? Até que ponto é necessário incorporarmos ainda mais tecnologia nas nossas vidas? Não será já o suficiente?
Até que ponto isso em vez de ser benéfico não estará já a ser prejudicial? E os benefícios que traz, compensa os males que acarreta?
Ainda não excedemos o limite daquilo que precisamos?
Não estaremos já a ultrapassar a nível tecnológico o limite do aceitável?
Será que ainda se vai continuar a inovar exponencialmente sem barreiras nem fim à vista?

Há tantas mais coisas que são igualmente importantes e essas são totalmente descuradas e ignoradas... em prol de uma correria cega e louca, pelo desenfreado progresso tecnológico, a ver se cada vez conseguimos inventar mais e mais coisas que afinal nem precisamos!?
Quando vamos parar de inventar mais coisas que são cada vez mais desnecessárias?
São elas que nos fazem realmente felizes?
As pessoas procuram incessantemente a felicidade nos objectos, e não a encontram. Será isso o indício ou a explicação de algo?

Se calhar se não tivéssemos as nossas vidas tão preenchidas de objectos inúteis que no fundo só servem para entreter e passar tempo, talvez tivéssemos mais tempo para as coisas que realmente importam e às quais deveríamos dar mais valor.
Quanto mais coisas temos, menos o tempo que temos para elas. Cada "coisa" precisa de atenção e de um tempo para nos dedicarmos a ela, se quisermos realmente usufruir da sua utilidade.
Por isso, quanto mais coisas tivermos, menor a atenção que conseguimos dar a cada uma.

É como termos um armário cheio de objectos, e cada vez que lá pomos mais um, os outros tem que se acomodar para que este novo caiba. E quanto mais coisas pomos, mais elas se vão acomodando apertadas e tendo cada vez menos espaço.
Porque o armário não aumenta de tamanho, mas nós não paramos de enfiar lá mais coisas.

É como o tempo. O tempo não estica.
E porque é que nós continuamos progressivamente a preenchê-lo com coisas inúteis?
Depois queixamo-nos que não temos tempo para nada. Pudera!
Alguma coisa tem de ficar para trás.
Estamos a isolar-nos progressivamente para podermos usar mais objectos novos, que nos fazem deixar outras coisas muito mais importantes da vida, para trás...

Cada vez temos mais... e cada vez temos menos...




1 comentário:

Luís disse...

A tecnologia e a sua tendência para o supérfluo, não é? Certas coisas ficaram tão rápidas para caberem em horários muito preenchidos, até o pensamento virou uma corrida a um julgamento final. No final de contas, são algumas horas, que é um sol e uma lua.De certa maneira, os dias serão iguais e sempre com o mesmo «fim»....oops, desviei-me :P

Acho que é por isso que eu tenho medo desta nova tecnologia ( e os blackberries e a net no telefone )- porque se o fizer, deixo de realmente fazer algo e depois tenho tanto tempo ilegítimo nas minhas mãos, até ganhar alguma perspectiva.



Eu lá achava que era um post um bocadinho comprido, mas não, estava enganado- tu és um espectáculo filosófico! :)

E usaste a palavra «engenhocas» !