27 abril 2009

I dreamed a dream...


There was a time when men were kind
And their voices were soft, and their words inviting
There was a time when love was blind
And the world was a song, and the song was exciting!
There was a time, when it all went wrong...

I dreamed a dream in time gone by...
When hope was high and life worth living
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving

Then I was young and unafraid
And dreams were made and used and wasted
There was no ransom to be paid
No song unsung, no wine, untasted

But the tigers come at night...
With their voices soft as thunder
As they tear your hope apart
And they turn your dream to shame


...


He slept a summer by my side...
He filled my days with endless wonder...
He took my childhood in his stride
But he was gone when autumn came!

...

And still I dream he'll come to me...
That we will live the years together...
But there are dreams that cannot be!
And there are storms we cannot weather!


...


I had a dream my life would be...
So different from this hell I'm living!
So different now from what it seemed...
Now life has killed the dream I dreamed...


Les Miserables

21 abril 2009

Lacunas biológicas...


Há muitas coisas da vida sobre as quais nem sempre conseguimos ter domínio.

Se há alturas em que pensamos que mais ou menos conseguimos ter o nosso rumo de vida planeado segundo os nossos projectos pessoais, há outras alturas em que nos sentimos completamente à deriva.

E talvez essas alturas em que nos sentimos à deriva existem porque há coisas que, por mais que queiramos, nunca conseguimos planear.

Aspectos da nossa vida que dependem de coisas sobre as quais não temos qualquer poder de decisão, domínio e forma de comandar.

Porque dos nossos planos de vida, praticamente só conseguimos conduzir e dominar as coisas objectivas e concretas. Porque os planos subjectivos, fogem ao nosso controle.

Escapam-se como areia entre os dedos sem nos darmos conta, tal é o nosso estado de absorção em fazer grandes projectos a médio e longo prazo.

Só que esses planos sobre os quais não temos poder nem certeza de atingir, quando estamos empolgados e fazemos os nossos projectos, são contabilizados inconscientemente.
Lá no fundo, achamos que em paralelo com determinados planos objectivos, hão de naturalmente coexistir outros subjectivos.

Só que isso não passa daí!

Porque há coisas que por mais que achemos que hão de vir naturalmente com o normal decorrer da vida, na verdade não podemos contar com que elas sejam certas. Não podemos pensar que elas vão acontecer quando nós queremos, quando nós esperamos, pretendemos e planeamos que elas aconteçam.

Se às vezes já nos é difícil realizar os projectos pessoais objectivos a que nos propomos, é ainda mais complicado contornar coisas que fogem ao nosso alcance e que são impossíveis de prever.


Só que às vezes iludimo-nos... e pensamos que nesta etapa da vida vamos fazer X, Y e Z tal como previmos. Mas esquecemo-nos que inconscientemente planeámos todo um conjunto de coisas que estavam subjacentes ao X, Y e Z.
E esse planeamento inconsciente é o subjectivo sobre o qual não temos qualquer domínio.

E quando nos deparamos a realizar os nossos planos objectivos X, Y e Z... começamos a notar que há algo que falta... que há uma peça do puzzle que não existe... É aquela peça que contabilizámos inconscientemente... E só quando damos pela falta dela, é que pensamos como há coisas na vida que de facto não são possíveis de prever assim num estalar de dedos.
Só aí é que realmente vemos que há muitas coisas que fugiram do nosso alcance.

Mas de tão iludidos que estávamos a planear X, Y e Z, até nos esquecemos que estes podem não se realizar da forma como previmos, porque em paralelo necessitam daquilo que inconscientemente contabilizámos.

Será que depois ainda temos força para acabar X, Y e Z? Mesmo sem a última peça do puzzle?
Como ultrapassamos coisas que não podemos prever quando nos deparamos com elas? Especialmente quando estas fazem parte dos nossos planos a longo prazo?

E nessas alturas criam-se fossos na nossa vida...
Há como que buracos que não conseguimos preencher por todas essas coisas sobre as quais não temos domínio...

Sentimos um vazio que não consegue ser preenchido por mais coisas que tenhamos, por mais outros objectivos que temos igualmente definidos... Porque só aquela peça é que encaixa, todas as outras já estão montadas, só aquela é que falta... Mas onde é que ela está? Ela não se encontra assim num estalar de dedos, muito menos cai do céu.

E de repente sentimos que tudo aquilo que construímos não foi assim tão sólido.
Mas será que construímos alguma coisa? Ou estávamos tão eufóricos que nem nos demos conta que há coisas que devíamos ter tido em conta no momento?
Não sei. Nestas alturas já não sabemos de nada.

Nestas alturas andamos completamente perdidos.
Sentimo-nos ocos e vazios por dentro. É a sensação de que não sobrou nada.
Tudo passou, foi tudo um sonho, mas que acordamos e não temos nada.


Porque no decorrer de X, Y e Z o normal seria já estarmos avançados e já termos percorrido uma parte daquilo que nos iria permitir alcançar os objectivos que inconscientemente delineámos.
Porque esses objectivos, que inconscientemente projectámos em paralelo, não foram ao acaso. São coisas normais àquela etapa de vida.

E se a vida decorre e elas não vêm, se a vida passa e nada acontece, sentimos naturalmente um vazio por algo não estar a ser preenchido.

Sentimos que os outros conseguiram um avanço nessas etapas, e que nós simplesmente estagnámos.
E por mais que queiramos sair, não conseguimos.


Quem ia a correr connosco, ao nosso lado, continuou. E nós ficámos para trás, progressivamente mais longe... e sem conseguir progredir naquela etapa e continuar para a seguinte.

E à medida que o tempo passa... só nos vamos enterrando cada vez mais...
E é nessas alturas que sentimos um profundo vazio a abater-se sobre nós...
Para além de ser nesses momentos que sentimos que todos desertaram... e nós ficámos sós...


17 abril 2009

Combinações espaciais...


Entrei no autocarro que sempre costumo apanhar... num sítio onde não há paragem... e pelo qual ele nem sequer passa...


Quando entrei, uma pessoa falou para mim. Reconheci que era a combinação de duas caras numa só face, de duas pessoas que apenas conheço muito ao de leve e raramente vejo...

Informou-me que provavelmente eu tinha apanhado o autocarro errado, porque aquele destinava-se a uma visita de estudo aos Médium... e eu não era de Geografia Física...

Dei-lhe razão e saí na paragem seguinte. E aí esperei calmamente que chegasse o meu autocarro, como se nada fosse.


Apanhei o autocarro e quando cheguei ao destino habitual, este não parou para que alguém saísse dele, continuou em frente como se nada fosse...
Mas eu de algum modo, não sei como, evadi-me do seu interior sugada por um fluxo de luz, do meu lugar directamente até à plataforma da estação de metro...

Apanhei o metro. E saí numa estação combinada. Uma estação onde fisicamente costumo sair, mas cujo nome não era aquele que figurava nas placas. A estação não estava igual e a plataforma não tinha fim.
E o mais estranho naquilo tudo era o facto de ela ter o nome de outra estação de metro, de outra linha, que ficava a muitos quilómetros de distância daquela.

Mas quando me apercebi... tal como o autocarro, o metro não tinha parado e eu tinha saído do seu interior sem me dar conta...


Na verdade ele havia tomado uma velocidade vertiginosa e nem sequer parou naquela estação onde eu "saí"!
Mas de alguma forma eu transpus a barreira física da
hermética carruagem, e algo me puxou de lá de dentro para a plataforma da estação...
Mal a toquei com os pés, comecei a andar a passo apressado ao longo dela, à procura da saída...


Quando tentava atingir a porta de saída, deparei-me com umas pequenas caixas no chão. Pareciam pequenos maços de cigarros que provavelmente alguém deixara cair sem querer.
Peguei nelas.
Mas quando me apercebi, o seu interior continha pequenas bolinhas verde fluorescentes, semelhantes a trufas, mas cintilantes e muito reluzentes. E eu já vira aquele invólucro antes, num lugar que sei perfeitamente identificar.

Mas mal peguei numa das caixas, apareceu um segurança a dizer que eu não podia mexer nelas, falando com seriedade e justificando-se com argumentos aos quais acenei, mas na verdade nem liguei muito ao que ele disse.
Mas tudo bem. Depositei a caixa e continuei o meu caminho para a saída.


Mais tarde fiquei a saber que as caixas apenas ficaram visíveis depois de eu as ter tocado... antes disso, só eu é que as conseguia ver...



E já todas as horas estavam trocadas. Mas eu tinha horas para alguma coisa? Tinha combinado algo com alguém? Quem? Já não me lembrava de nada!



Quando finalmente consegui sair para fora da estação, reparei que tinha saído no sítio que queria. Mas este não correspondia àquela estação fisicamente, nem ao nome que era de outra, mas que indicava ser aquela.

Mas fui ter ao lugar que queria, e isso é que importava.
Um lugar que uma vez já tinha encontrado também desta forma, e que não é mais do que o prolongamento em extensão física de um canto muito especial, até a um espaço com um grande eixo visual.

Talvez isso queira dizer que fiz uma boa idealização inconsciente de como gostava que aquele espaço fosse. Ao ponto de o ter idealizado duas vezes da mesma forma...

Mas na realidade não sei porquê, porque até considero que ele está bem assim como é de facto. Se fosse maior, seria mais impessoal e menos acolhedor.
Mas não liguei, e fui exactamente para trás desse lugar.

E aí encontrei pessoas. Pessoas que existem e que eu conheço.
E estavam todas num sítio, no qual eu passo frequentemente, embora totalmente alienada, dado já ser tão instintivo fazer aquele trajecto, que já nem sequer penso nele.
Mas rapidamente notei algo de errado. Alguma coisa ali estava completamente diferente.
A topografia estava mais acidentada, tinha uma inclinação que antes não tinha, estava arrelvado e tinha umas oliveiras vítimas de reptação.

Achei estranho, mas não dei muita importância.
Conversei com essas pessoas, e após atitudes suas que me fizeram verificar que era com elas que estava realmente a falar, acabámos por ir todos para um lugar comum ali perto...



Depois mais tarde vim a saber que aquele sítio me parecera estranho porque estava fisicamente combinado com um lugar onde eu outrora havia estado há muito tempo...

Um lugar especial...

...
... muito a Norte dali...


Um lugar onde os pauliteiros ainda cantam...



13 abril 2009

Dançando e aprendendo...


Há trinta anos, os adolescentes encontravam o sexo oposto em bailes d
e salão organizados por clubes, igrejas ou pais responsáveis, preocupados com o sucesso reprodutivo de seus rebentos.

Na dança de salão, o homem tem uma série de obrigações, como cuidar da mulher, planear o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo de uma mulher.

Os homens levam três vezes mais tempo para aprender a dançar do que mulheres.
Não que eles sejam menos inteligentes, mas porque têm muito mais funções a executar.

Essa sobrecarga em cima do homem permite à mulher avaliar rapidamente a inteligência do seu par, a sua capacidade de planeamento, a sua reacção em situações de stress. A mulher só precisa de acompanhá-lo. Ela pode dedicar seu tempo exclusivamente à tarefa de avaliação do homem.


Uma mulher precisa de muito mais informações do que um homem para se apaixonar, e a dança permitia a ela avaliar o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dava ao seu par.

Ela podia analisar como o homem lidava com o fracasso, quando inadvertidamente dava uma pisada no seu pé. Podia ver como ele se desculpava, se é que se desculpava, ou se era do tipo que culpava os outros.

Essa convenção social de antigamente permitia ao sexo feminino avaliar, numa única noite, vinte rapazes entre os 500 presentes num grande baile. As mulheres faziam um verdadeiro teste psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam. Em poucos minutos, conseguiam ter uma primeira noção de inteligência, criatividade, coordenação, tacto, carinho, cooperação, paciência, perseverança e liderança de um futuro par.

Infelizmente, perdemos esse costume porque se começou a considerar a dança de salão uma submissão da mulher ao poder do homem, porque era o homem quem convidava e conduzia a mulher.

Criaram o disco dancing, em que homem e mulher dançam separados. O homem não mais conduz, nem sequer toca no corpo da mulher.
O som é tão elevado que nem dá para conversar. Os usuais 130 decibéis nem permitem algum tipo de interação entre os sexos.
Por isso, os jovens criaram o costume de "ficar", o que permite a uma garota conhecer, pelo menos, um homem por noite sem compromisso, em vez de conhecer vinte rapazes numa noite, também sem compromissos maiores.

Pior... hoje o primeiro contacto de fato de um rapaz com o corpo de uma mulher é no acto sexual, e no início é um desastre. Acabam fazendo sexo mecanicamente, em vez de romanticamente, feito a extensão natural de um tango ou bolero.

Grandes dançarinos são grandes amantes, e não é por coincidência que mulheres adoram homens que realmente sabem dançar, e se apaixonam facilmente por eles.

Masculinizamos as mulheres no disco dancing, em vez de tornar os homens mais sensíveis, carinhosos e preocupados com o trato do corpo da mulher.

Não é por acaso que aumentou a violência no mundo, especialmente a violência contra as mulheres. Não é à toa que perdemos o romantismo, o companheirismo e a cooperação entre os sexos.

Hoje, uma rapariga ou um rapaz tem de escolher o seu par num grupo muito restrito de pretendentes, e com pouca informação de ambas as partes, ao contrário de antigamente.

Os homens não se tornam monstros e as mulheres não se tornam megeras depois de casados.
As pessoas mudam muito pouco ao longo da vida... na realidade, elas continuam a ser o que eram antes de se casar.
Nós é que não percebemos, ou não soubemos avaliar, porque perdemos os mecanismos de antigamente, de selecção a partir de um grupo enorme de possíveis candidatos.

Fico feliz ao notar a volta da dança de salão, dos cursos de forró, tango e bolero, em que novamente os dois sexos dançam juntos, colados e em harmonia.

Entre o olhar interessado e o "ficar" descompromissado, eliminamos, infelizmente, uma importante etapa social, que era dançar, costume de todos os povos desde o início dos tempos.

É importante ajudar a reintroduzir a dança de salão nos clubes, nas festas, nas associações, para que os homens aprendam a lidar com carinho com o corpo de uma mulher.

07 abril 2009

Sítios e Lugares...


Há sítios e sítios... e na verdade todos eles são diferentes em todos os sentidos, em especial no que nos transmitem. É aí que indubitavelmente reside a sua maior diferença. E embora fisicamente os sítios possam também ser todos diferentes, a verdade é que nesse campo reunem muito mais semelhanças.
Na verdade, existem sítios em que nos sentimos melhor do que noutros. E às vezes nem sabemos bem explicar porquê.

Existem sítios que parece que por mais que lá permaneçamos temporalmente, na verdade não nos sentimos lá bem. Não conseguimos arranjar "um canto" que sintamos que seja nosso, onde estejamos à vontade tanto psicologicamente como fisicamente. São realmente sítios pelos quais sentimos repulsa.

E existem ainda os sítios que embora totalmente adornados, repletos de confortos físicos agradáveis aos olhos, ornamentados com o maior requinte, ou mesmo fisicamente confortáveis para se estar, não passam disso mesmo. Sítios onde apenas fisicamente se está bem. Pois apesar de muitos "berloques", psicologicamente não temos nenhuma afinidade ao espaço, não nos sentimos minimamente ligados a ele por nenhuma razão. O à vontade é apenas físico, porque todo o que passa além disso, não existe.

E em oposição a estes, existem aqueles espaços que embora fisicamente não sejam nada de mais, psicologicamente sentimo-nos cofortáveis neles. Sentimo-nos bem. Apesar de não serem nada de especial fisicamente, preenchem-nos psicologicamente apenas com o que aquele lugar nos transmite emocionalmente. É um conforto psicológico de nos sentirmos abertos ao espaço e receptivos ao que ele nos proporciona.

E por fim, existem aqueles sítios que são sublimes e perfeitos em tudo. Nos quais nos sentimos bem física e psicologicamente. Sítios que nem sabemos bem explicar, mas fisicamente estamos "como peixe na água", como se fosse o nosso ambiente de excelência para estar, e psicologicamente sentimo-nos transcender quando lá estamos. Psicologicamente esses sítios significam tanto para nós... um tanto que nem sabemos definir nem explicar bem porquê.
Sentimos uma afinidade física e emocional com aquele espaço, que dificilmente se consegue explicar e muito menos traduzir materialmente em palavras.

São espaços de encanto, espaços diferentes que têm um significado especial para nós.
Lá sentimo-nos bem em todos os sentidos, física e psicologicamente, e em todas as outras dimensões... São espaços de transcendência que nos transportam para outros lugares muito longe daqui, muito longe desta realidade tangível. Espaços de evasão, que reunem todas as condições que consideramos perfeitas.
É o espaço, a vista, a paisagem, as pessoas, o ambiente, e algo mais, algo mais que nem se consegue definir bem, nem explicar, só sentir. É uma afinidade inacta que temos com esses espaços que os tornam especiais para nós. Lá sentimos que planamos noutro mundo, vamos para outro lugar a partir dali, evadimo-nos até ao espaço, tudo no mesmo sítio. Pelo simples facto de ele reunir tudo aquilo que consideramos inconscientemente sublime.

E por isso podem haver sítios muito arranjadinhos e bonitinhos, mas que não nos dizem nada, é só aspecto, e não passa disso. Porque por mais que se faça esforços para que sejam lugares aprazíveis e personalizados, nunca vao conseguir "competir" com aqueles onde nos sentimos bem em todos os sentidos...

E talvez a razão principal que nos faz gostar tanto de certos sítios em detrimento de outros, se prenda essencialmente com a sua identidade.
O facto de nos sentirmos bem num dado sítio e não noutro, é porque sentimos que ele tem cariz, que tem personalidade, e que tem uma identidade própria. Os lugares com identidade, são sempre mais carinhosos e acarinhados... a tipicidade do local, os costumes das gentes, os hábitos, os sons, o ambiente vivido... tudo paira no ar.
Os lugares com identidade própria são realmente diferentes e por isso nos sentimos lá bem. São sem dúvida, locais confortáveis em todos os sentidos. E isso deve-se essencialmente à sua identidade que alastra em toda a sua aura até nós.
Sentimo-nos bem, independentemente de nos indentificarmos ou não com o lugar. Independentemente de nos "indentificarmos com aquela identidade". O importante é que ela existe, persiste e perpassa até nós, entranhando-se nos nossos sentidos e sensações. São lugares com história, com cariz, com personalidade e vida própria. Lugares vivos!

E talvez seja por isso que alguns sítios são tão especiais... e é por isso que não são sítios... são lugares...



05 abril 2009

À Porta do Mundo...


Ó lua faz-me uma trança

P’ra de dia desmanchar

Guarda-me a última dança

Quando o fio se acabar

Gosto de ver o teu rosto
Que a mil caminhos se presta

Para uma noite desgosto

Por uma noite de festa

Voltaria à tua terra

Por um mergulho de mar

Entre a cidade e a serra

Fica algures o meu lugar


Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida

Por trás de tudo o que importa

Vem um sentido p’rá vida


Este mundo não tem porta... Nem uma chave escondida... Por trás de tudo o que importa... Vem um sentido p’rá vida...


Se te fizeres ao caminho
Em horas de arrebol

P’ra fermentar o meu vinho

Traz-me um pedaço de sol

Vamos escrever uma história

Rever um filme a passar
Logo virá à memória

O que eu te queria dar

Será verdade ou mentira
Como um segredo roubado
Sou como a lua que gira
Hei-de dançar ao teu lado



Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida

Por trás de tudo o que importa

Vem um sentido p’rá vida



Este mundo não tem porta... Nem uma chave escondida... Por trás de tudo o que importa... Vem um sentido p’rá vida...


EnCânticos 2009

01 abril 2009

Tempos de transição...

Às vezes andamos diferentes... mais parados, mais pensativos, mais distantes dos outros e do que nos rodeia, mais alienados aqui do real, apenas a absorver o que transpõe a esfera do material e do básico.
E depois acabamos por achar que andamos estranhos, cansados, a leste deste mundo e quase nos culpamos por não estarmos "normais" como de costume. Mas também... o que é ser "normal"?
Mas na verdade, não nos devemos crucificar por isto, por estarmos menos aqui e mais do outro lado, e mais a Leste do que a Oeste...
Tudo acontece por uma razão.
E se agora estamos mais cabisbaixos, menos faladores, mais retraídos, às vezes também é devido à necessidade de certas mudanças, e de pormos "as ideias em ordem".

São retracções que não são em vão... na verdade são períodos de reflexão que trarão frutos mais tarde.
Só que agora apenas achamos que "andamos em baixo" e mais pensativos, não reflectindo que futuramente isso se traduzirá em "shifts" de novas ideias e pensamentos, bem como o surgimento de um conjunto de novas coisas... e talvez um pouco a rejeição de coisas que antes dávamos como certas e garantidas.
De certa forma, é um estado de transição indefinido que proporcionará futuramente todo um conjunto de mudanças mais drásticas.

Um exemplo análogo poder-se-ia facilmen
te retirar da história cronológica da humanidade.
Frequentemente se afirma que a Idade Média foi o período da história em que mais se assistiu a uma maior estagnação aos mais diversos níveis. Estagnação social, cultural, económica, de ideias, de desenvolvimento, etc.
Afirma-se com frequência que foram mil anos em vão... e em que nada houve progresso.

Na verdade, foi das épocas em que mais se evolui dos mais variados pontos de vista!
Só que como ficou tão disperso no tempo, isso quase não se notou... pois praticamente ficou esbatido durante toda essa era.

Mas de facto, se formos a ver... como teríamos transitado da Idade Antiga para o período Moderno sem passar pela Idade Média?
Se ela tivesse sido assim tão em vão, não seria agrupada num só período, mas talvez dispersa pelo precedente e o seguinte.
Mas na verdade, foram mil anos de charneira que fizeram a ponte entre a Antiguidade e a Idade Moderna... porque se não fosse a Idade Média, o período Moderno não seria mais do que uma continuidade da Idade Antiga, advogando então que a Idade Média foi em vão.

E é mais ou menos essa a ideia que de uma forma análoga se pode transpor para estes nossos tempos de transição que às vezes temos.
Eles de facto não são em vão, embora às vezes seja isso que percepcionamos, porque não nos conseguimos dar conta que a evolução existe, porque ela é lenta.
Mas na verdade, as mudanças ocorrem posteriormente, e são de facto reflexo dos nossos tempos que às vezes achamos que foram mais obscuros, conturbados e turvos.

Mas eles são fundamentais para que se evolua... pois neles há todo um fervilhar de ideias e pensamentos revolucionários que vão remexer no fundo.
E só isso nos vai permitir passar da nossa "Idade Antiga" para o nosso "Período Moderno", e futuramente Pós-Moderno... como uma sucessão de etapas na vida que são pontuadas nos seus intervalos por crises existenciais e por pensamentos mais estranhos e perturbadores...