31 dezembro 2013

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Magnificently unprepared for the long littleness of life...


30 dezembro 2013

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O que a gente leva da vida, é a vida que a gente leva...



13 dezembro 2013

Metáfora del Cuerpo Atado

"As esculturas de Rablaci são compostas por laranjeiras arrancadas das suas terras, com recurso a correntes, pregos e cordas; e as raízes estão voltadas para cima, como forma de revelação do drama de danos ambientais irreversíveis, aos quais o Homem submete a Natureza e a si mesmo.

O trabalho do artista é uma reflexão sobre o desenraizamento, a solidão, e a desconexão, que para muitos é interpretado como um processo criativo que se refere ao abandono do respeito pela origem - de um solo fértil a um solo infértil - que constitui uma metáfora da Natureza que agoniza, como consequência dos mecanismos de produção humanos com os quais compartilha o espaço.

A escultura, que se funde com o orgânico, tem uma relação com a vida. Essa árvore despida de terra, que resiste à morte, é uma árvore que grita desesperada: troncos com os seus ramos voltados para o chão e as suas raízes para o céu, subvertem a relação do erguido com o céu.


"A obra de Rablaci encontra-se numa fronteira: recria uma natureza fantástica a partir de um imaginário muito contemporâneo, em que tudo se pode transformar num espectáculo, o espaço de contacto entre a Arte e a Natureza."
Francisco Brugnoli
Curador do Museu de Arte Contemporânea da Faculdade de Artes da Universidade do Chile"


in Revista Municipal de Torres Vedras nº14, Maio Junho 2013

03 novembro 2013

Editorial

"  «A relação entre o artista e a solidão:
- O artista deve reservar para si longos períodos de solidão
- A solidão é extremamente importante
- Longe de casa
- Longe do atelier
- Longe da família
- Longe dos amigos
- O artista deve passar longos períodos de tempo perto de cachoeiras
- O artista deve passar longos períodos de tempo perto de vulcões em erupção
- O artista deve passar longos períodos de tempo olhando as corredeiras dos rios
- O artista deve passar longos períodos de tempo contemplando a linha do horizonte onde o oceano e o céu se encontram
- O artista deve passar longos períodos de tempo admirando as estrelas no céu da noite»

Ponto 12 do 'Manifesto sobre a Vida do Artista'
Marina Abramovic

O mundo onde vivemos exige de cada um de nós uma maior dedicação, uma responsabilização crescente, uma capacidade de ser criativo e de olhar para o presente com um sentimento de abertura ao que os rodeia, de forma a perceber o que somos e o que queremos da vida que temos para viver; aquilo que vamos criando em conjunto com os outros e com a natureza da qual fazemos parte. 
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É crucial que cada um de nós faça nos dias que correm um exercício de reconhecimento de si e dos seus limites - de forma a descobrir-se e poder apreender toda a beleza e o mistério da vida e do mundo em que vivemos. 
É  importante que a partir desse gesto de mergulhar para dentro de si e de mergulhar no mundo, se possa vir a construir uma alargada capacidade de trabalhar em conjunto, de pensar com os outros, de abandonar as experiências pessoais como sendo o centro da existência de cada um.
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Estamos a viver um tempo em que os números falam mais que os afectos e as relações profundas e duradouras entre as pessoas. Sabendo isto e compreendendo o que significa falar com a linguagem dos números - congratulamo-nos por oferecer sensibilidade e inteligência criativa e sentir que existe tanta gente genuinamente interessada nestes valores, nestes aspectos da vida em comum.
Como diz um verso que se tornou emblemático, de um poeta e cantor norte americano, de seu nome Jim Morison:

I tell you this,
No eternal reward will forgive us now
For wasting the dawn.

Este verso, gerador de tantas possíveis interpretações,  no meu entender fala de que nenhuma recompensa de eternidade nos trará o perdão por desperdiçarmos, hoje, o nascer de cada dia.
A programação do Teatro-Cine de 2013 contém este apelo para a partilha, para a construção de uma capacidade de pensar em conjunto, para o viver cada dia, com toda a intensidade que merecemos, pelo simples facto de estarmos aqui, em uníssono, neste lugar do universo"

João Garcia Miguel (Director do Teatro-Cine de Torres Vedras)
in Editorial da Agenda do Teatro-Cine de Torres Vedras

13 outubro 2013

13.10.13.


Parabéns :)

Este ano como 'presente' fica aqui uma "música sincera" como alguém me disse hoje...


07 maio 2013

Esponja...

Já há bastante tempo que não escrevo. Realmente agora que vejo a data do último post, até me dá arrepios o 'abandono' a que ficaram os Meridianos...
Mas não é pela falta de coisas que teria para escrever, isso acho que nunca me faltaria, dada a minha natureza aquariana... elemento ar... só por si já diz tudo...
A questão ou uma das questões, é que o mundo está numa constante transformação e evolução, assim como nós.
E há alturas que sentimos isso intensamente.
Talvez sejam as convulsões físicas do globo, que são transportadas para as suas populações, que por sua vez acabam por ter o mesmo tipo de comportamento... talvez sejam os astros e a mudança da era das trevas para a era da luz... talvez sejam as conjunturas cósmicas que estamos a atravessar...
Confesso que não sei bem explicar, mas compreendo que sejam os planetas que estão a comandar essa mudança que tanto se tem sentido no planeta terra, e nós como meros fantoches do imenso e infinito universo cósmico, somos afectados pelas mesmas.

E por isso tem sido períodos de grande reflexão sobre a nossa existência, o que andamos aqui a fazer, para quê, com que objectivos, o que é mais importante, o que vale realmente a pena, questionamento sobre assuntos mundanos actuais e tantas outras coisas.
E talvez numa tentativa de primeiro tentar digerir e decompor todos esses elementos, antes de os tentar categorizar e processar em ideias e texto escrito, é que realmente não tenho vindo quase aqui.
Tal é a complexidade de coisas a pensar em relação a determinados assuntos.

E simultaneamente parece que, se não se sabe muito bem o que pensar, apetece mais ficar a digerir e tentar tirar as nossas conclusões e ilações mais gerais para a vida.
Ou algo que faço instintivamente com muita frequência. A partir de coisas concretas que acontecem, tomar uma conclusão geral que posteriormente pode ser aplicada a outras coisas da vida que acontecem.
Demasiado categórico, para quem não queria categorizar nada, não é?
Mas acho que isso é benéfico para enfrentar as pequenas e grandes coisas que nos deparam no quotidiano, facilitando a vivência diária e a nossa relação com os outros e com o mundo.

E por isso é que estando mais numa de absorver, interiorizar, processar internamente a informação e tudo o que me chega, é que náo tenho escrito muito aqui.
Não é que não tenha ideias, aliás, acho que o 'problema' é precisamente o contrário. É ter demasiadas.
Mas é que às vezes não apetece (porque também não se sabe bem!) tanto escrever sobre o que se pensa e reflecte, porque se está mais numa de absorver o que nos rodeia e deixar processar e decompor internamente...

30 abril 2013

Parque Mayer, os bastidores da cidade...


"Cheguei a Lisboa. E tudo continua naquele estilo, naquele jeito mágico de extravagância, quando o destino começa a pregar-nos partidas de génio de lanterna mágica. Nem é preciso esfregar a lâmpada.
A Rua do Salitre é um verdadeiro toboggan que desce em ziguezague da colina do Bairro Alto até à Avenida da Liberdade, a orgulhosa artéria elísia.

A Avenida da Liberdade é uma correnteza de árvores que desce do Parque Eduardo VII até à Baixa; um longo rio urbano cujo estuário se confunde com o largo do Rossio, onde direcções e destinos se diluem… é também o tubo digestivo da cidade, pelo qual transita um tráfego automóvel cada vez mais difícil de absorver e evacuar. 
Essa artéria ruidosa e comercial, outrora passeio público, e em temos paga, já não é um lugar ideal de convívio ou de encontro.

Na parte de trás da Rua do Salitre encerra-se um parque escondido… o crepúsculo cai sobre uma área de teatros mortos, que mais parecem silos, imensos reservatórios de nostalgia.
No coração da cidade, esse espaço constitui um enclave inconcebível de cenários esquecidos, um parque de atracções que não atrai ninguém, um beco sem saída de fantasmas.

O Parque Mayer é um espaço morto. O seu monumental portão art deco dá acesso a uma cinecitta abandonada. Ruas e ruelas de paralelepípedos encerram teatros e cinemas há tanto tempo fechados que as grades enferrujaram. O cartaz a preto e branco do último espectáculo do Capitólio, o grande “silo”, reforça a sensação de relógio parado na hora de encerramento. 

Mergulho nos bastidores da cidade. Os rumores extinguem-se como os aplausos, tornados recordação. As revistas foram arrumadas nos vestiários da memória popular. 
Apenas resiste o Teatro Maria Vitória, à entrada, que, contra ventos e marés, apresenta um corpo de bailado moderno, numa luxuosa revista à portuguesa, em cena há mais de doze anos. As fotografias exibem bailarinas que levantam bem alto as pernas nuas. 
Os outros edifícios, cenário abandonado às intempéries, estão minados pela ruína. As paredes esboroam-se, as ervas crescem entre as telhas e entre as pedras da calçada.

E ao longe avista-se uma tabuleta que indica a direcção do Restaurante Gina ao fundo do beco. O restaurante Gina é um espaço tão insólito como um campo de refugiados em ruínas.
Fica situado entre um parque de estacionamento deserto, de alcatrão gretado, e uma barraca de tiro, de arcos mouriscos, completamente desconjuntada.
O restaurante está encostado ao muro do Jardim Botânico, que domina o Parque Mayer; as palmeiras e os eucaliptos, observadores indiscretos, espreitam sobre o parapeito.

Passa um amolador de facas e navalhas, a empurrar a sua pequena oficina ambulante. Desde a minha infância que não vejo amoladores de tesouras. Sinto-me invadir por uma onda de timidez e não me atrevo a abordá-lo de tal forma me parece estar a cruzar-me com uma figura de cera, saída do imobilismo do museu, de boné enterrado na cabeça.

No Restaurante da Gina, a cozinheira é negra. Abana os carapaus que fumegam alegremente. Imagino-a cabo-verdiana, porque ela passa a arrastar os pés, com aquela lentidão das ilhas que nenhum vento urbano consegue contrariar."


JYL