17 outubro 2011

Estações...

Estações de comboio perdidas… carris que vão dar ao infinito… plataformas de comboio mágicas…

Há tempos atravessei uma linha do comboio, daquelas perdidas no meio do nada… e apeteceu-me ficar parada a meio… a olhar para o túnel imaginário em que o comboio se sume no horizonte infinito…


Plataformas de comboio são sempre aquele mistério lindíssimo, repleto de simbolismo, e de mil e um inexplicáveis sentimentos…

Existem milhares de linhas de comboio, plataformas e carris... mas as linhas de comboio, as estações de comboio antigas, e os carris por onde o tempo passou são maravilhosos…

Tem um significado muito especial, uma dimensão simbólica de viajar e de distância muito fortes, que dificilmente se consegue explicar.

Permitem-nos sonhar e evadir para muito longe, para o infinito…

E a ideia de ficar a observar o comboio partir da plataforma... e desaparecer ao fundo, tornando-se num pontinho cada vez mais pequeno até que se extingue na paisagem... é aí que se reflecte realmente a ideia de partir de ir, para bem longe...


As estações de comboios têm em si aquele significado simbólico do amor... e essas sensações devem-se ao nosso imaginário remeter para épocas passadas e para todo o desenvolvimento das ligações ferroviárias que permitiram percursos mais distantes... mas também porque o comboio, desde sempre foi um dos primeiros, mais conhecidos e utilizados modos para emigrar.

Aquelas imagens inesquecíveis das pessoas dentro do comboio a acenarem “adeus” pelas janelinhas, às famílias e mulheres que iam ficando progressivamente mais longe e para trás na plataforma, à medida que o comboio ia avançando... Todas essas imagens têm uma carga simbólica muito forte, que nos transporta para o nosso imaginário longínquo…
E significam tudo aquilo da distância e da separação entre as pessoas... E ao contrário, também a chegada, a reunião, o encontro após tempos infinitos à espera do regresso de alguém que nos é querido...

Os comboios, as plataformas, os carris infinitos… têm uma forte carga simbólica e uma dimensão inexplicável das relações entre as pessoas...


Simbolizam a multidão, um lugar onde toda a gente passa, um lugar de todos e um lugar de ninguém... Mas também o lugar onde no meio de uma multidão imensa, sabemos que há aquela pessoa que para nós é importante. E no meio de tantas, só aquela importa, só aquela conta. Só aquela nos diz algo… como se todas as outras que ali estão nem sequer tivessem rosto...


Talvez este tipo de sentimento em relação aos comboios, às antigas locomotivas, e às estações de comboios seja estranho, misterioso e intrigante… mas felizmente ainda existem, perdidas por esse mundo fora, estações paradas no tempo…


Aquelas plataformas inconfundíveis, os pilares rebuscados, o relógio verde que o tempo não tirou as horas...

Tudo é igual a tanto tempo atrás... tudo é igual a como sempre foi…


Parece que o traçado das linhas de comboio foi feito para criar em nós uma nostalgia muito especial, uma memória translúcida de coisas antigas…

Viver a história dos comboios é viver os pedaços de tempo e de matérias de um saber raro: o das deslocações ocasionais, o das deslocações sem fronteira, sem imagens desaparecidas…


E faz-se de tudo no comboio: lê-se, dorme-se, fala-se com alguém.

Há sempre encontros com alguma coisa, com alguém, com a paisagem, com a tranquilidade.


E são sempre lugares de encontro, as estações ferroviárias são uma sala de visita de outras muitas aventuras que nos aguardam de cada vez que viajamos…


Se fecharmos os olhos conseguimos imaginar aqueles lugares apinhados de gente na plataforma e a subir para o comboio. Um frenesim de malas e despedidas, misturado com o apito de partida, o fumegar do carvão a sair da locomotiva, e a chegada dos acenos…


E agora abrimos os olhos… e vemos uma estação deserta, uma plataforma vazia, e carris nus ainda que vão dar a lado algum… E toda uma aura mágica, uma atmosfera de memórias perdidas de um simbolismo transcendente de um passado longínquo que agora jaz naquele lugar perdido no tempo…


E talvez seja por isso que esses lugares nos fazem evocar memórias passadas de tempos longínquos que nem sequer presenciámos. Mas que por alguma razão, parece que os sentimos na pele, como pertencentes ao nosso passado.

E se calhar pertencem…


“Na estação, sob a sua abóbada, comboios e pessoas estranhas reuniam-se como peregrinos.

Sempre pensara que as velhas estações de comboio e caminho-de-ferro eram um dos poucos lugares mágicos que restavam no mundo. Nelas se misturavam os fantasmas de recordações e despedidas como início de centenas de viagens para destinos distantes, sem regresso.

Se eu um dia me perder, procurem-se numa estação de comboios…”


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