Rotinas... rotinas que sabem bem... Às vezes é nas pequenas rotinas do quotidiano diário que encontramos os verdadeiros prazeres da vida. Aquilo que realmente nos satisfaz e nos faz sentir bem connosco mesmos. E essas podem ser coisas tão simples... porque na verdade esse prazer vem de dentro, do nosso interior... a satisfação com essas pequenas coisas reside na essência com que as vemos... e sentimo-nos bem porque o nosso estado de espírito está propenso para tal... porque estamos receptivos a absorver as energias positivas que nos rodeiam...
E são coisas tão simples que nos fazem sentir bem... são as coisas mais simples as que nos fazem mais felizes...
Na verdade, são muito poucas as coisas que realmente importam... é preciso muito pouco para se ser feliz...
Uma vida simples, com pouco, mas com o realmente importante, é o caminho para nos sentirmos bem, em paz, e felizes com a nossa existência no mundo.
A apologia da simplicidade é a filosofia que rege a felicidade... porque na verdade precisamos de muito pouco para sermos felizes...
Hoje em dia vivemos mergulhados num mundo regido pelo materialismo, onde o "ter" sobrepõe-se ao "ser", onde os objectos são o objectivo de vida das pessoas e o seu fim último.
E o que temos nunca chega, precisamos sempre de mais, porque já está fora de moda, porque já não se usa, porque já não fica bem, deitamos fora não porque não presta ou está velho, mas porque já há outro novo.
E assim vivemos nesta corrida sôfrega aos objectos, procurando sempre por mais um e mais outro, e nunca chegando a aproveitar, nem tirar partido e desfrutar do que temos, porque estamos constantemente a ansiar por mais e mais!
E vamos acumulando objectos e coisas à nossa volta... e vamos deixando de ter qualquer controlo sobre eles...
Vivemos submersos num consumismo cego que nos destrói por dentro, que não nos dá paz de espírito, nem traz calma à nossa vida.
E quando nos apercebemos disso, dessa inutilidade... socorro! É um sufoco atrofiante viver nesta selva pantanosa de objectos!
Estamos rodeados de todo o tipo de objectos... extenuados e exaustos por este consumo que nos consome!
E se formos a ver... temos tantos objectos e na verdade não temos nenhum mais favorito e que nos seja especial e querido em particular... pelo qual nutrimos uma maior afeição.
Porque a afeição que temos às coisas, tal como às pessoas, cultiva-se.
E se hoje temos um objecto, amanhã outro e depois outro e estivermos sempre a mudar, não temos sequer tempo de nos apegar, nem de ganhar afeição e criar uma ligação ou mesmo desfrutar de determinado objecto.
Nem de desenvolver e criar memórias com ele... ele não significa nada para nós, porque como ele há tantos outros... são todos iguais, nenhum se destaca, nem se distingue dos outros... nenhum nos é particularmente especial ou diferente.
Nenhum nos significa nada. E no fundo temos tantos e somos vazios, sentimo-nos vazios.
Porque a afeição às coisas, aos objectos tem de ser criada, estimulada, cultivada e desenvolvida... e a inconstância da vida em que vivemos não permite essa afeição.
Se tivermos pouca coisa, poucos objectos, aproveitamos e desfrutamos muito mais de cada um deles do que se vivermos mergulhados e afogados no meio deles... tiramos mais partido, gozamos mais e damos mais valor ao pouco que temos.
E somos mais felizes por isso, e assim, do que se tivermos muito.
As pessoas que tem pouca coisa e que vivem para o dia-a-dia, que vivem um dia de cada vez, que vivem devagar, são normalmente muito mais felizes do que as que anseiam por ter tudo e que depois não tem tempo para gozar nada.
As primeiras tem pouco, mas é o mínimo e são felizes assim, gozam o que tem, porque o pouco goza-se muito mais do que o excesso. Quanto mais coisas temos, menos as conseguimos dominar, tomar conta e dar atenção a cada uma delas.
E é assim que às vezes se tem tanto e não se tem nada... porque os objectos não são nada... os objectos e a ostentação de riqueza material não significam de modo algum sentir-se feiz e bem consigo próprios.
Muitas vezes as pessoas com mais objectos são as que tem um maior vazio dentro de si. E isso é a maior prova que não são os objectos que preenchem esses vazios.
Porque tem mais presença em nós, o que nos falta...
A isso poder-se-ia fazer uma simples analogia do espaço. Normalmente, com a melhoria das condições económicas, as pessoas têm a tendência para adquirir casas mais espaçosas, com divisões maiores (para porem todos os objectos que tem...), que se ajustem (?) às suas necessidades, mais amplas... Será isso necessariamente bom?
Se hiperbolizarmos um pouco isso, podemos ver o exemplo das pessoas mais ricas... que vivem em grandes casas, luxuosas mansões, cheias de todos os adornos e decorações possíveis, com divisões a perder de vista... será que são felizes?
Normalmente cada pessoa está isolada numa divisão que lhe foi destinada como sua, como o seu espaço, um local para si própria. E se pensarmos ainda noutra dimensão, essas casas costumam ser no meio do nada, afastadas de tudo, isoladas de todos, casas enormes, onde as poucas pessoas que lá vivem mal tem contacto com o exterior, com outras pessoas, não tem ninguém para conviver... nem um café da esquina para ir trocar dois dedos de conversa...
Ao contrário disso, em meios mais pobres economicamente, ou apenas menos ricos, as divisões e as casas mais pequenas, levam a que as pessoas tenham de estar mais juntas, mais próximas umas das outras... o que naturalmente, e só por si, gera mais convívio, mais espírito de grupo, a possibilidade de desenvolver laços de amizade, o fomentar de relações de solidariedade, de valores, de união, de respeito... E muitas vezes quando o espaço da casa não é suficiente, abre-se a porta, e a vida da casa vê-se estendida para a rua, há um prolongamento da casa para fora, para o exterior, para o bairro, com todas as dimensões sociais, de convívio e de vizinhança associadas que daí advém... E não é isso o mais importante?
Afinal são os espaços mais pequenos os mais acolhedores, e aqueles que proporcionam uma maior felicidade às pessoas... que às vezes até faz esquecer algumas das condições que só os outros com mais espaço têm.
Mais uma vez podemos concluir que temos e aproveitar o pouco que temos porque afinal ele é suficiente, chega. Porque se desejarmos mais, provavelmente vamos estragar qualquer outra coisa que temos e nem temos consciência dessa provável perda.
Vivemos bem com pouco... a única coisa que devemos ter muitos são os sonhos... e a única coisa que devemos querer ter grandes são os horizontes...
E não é preciso muito...
Às vezes basta um livro, um sorriso ou uma conversa para viajarmos em sonhos...
Às vezes basta uma viagem ou uma ideia para abrirmos os horizontes...
Estarmos alienados do mundo... mas ao mesmo tempo atentos a ele e ao que nos rodeia...
E viver de sonhos... sempre.... de noite, mas também de dia... porque os que sonham de dia tem conhecimento de muitas coisas que escapam aos que sonham de noite...
Faz-me o favor de ser feliz! E pára de exigir coisas do mundo. O mundo não te deve nada. Já existia antes de ti...