Apatia. Apatia e indiferença. Face tudo e face a todos.
Olhar perdido e vazio. Expressão oca, opaca e morta.
Um olhar de nada, para o nada. Gestos baços e movimentos reticentes.
Às vezes é para isso que se caminha. Às vezes é assim que se fica.
Quando tudo acaba, quando já não há mais nada. Quando o que passou só deu frutos no momento, e não deixou nada para se perpetuar.
Quando o passado não deixou legado para o futuro. E quando o presente apenas num futuro parcial se irá traduzir.
De um passado reluzente. Tudo acabou. Quase nada ficou. Nada restou.
E quando tudo acaba, quando as luzes da ribalta se apagam e todo o público se vai embora, nada sobra.
Apenas fica uma sensação plena de vazio.
E é assim que ficamos na vida quando algumas coisas acabam. Nadamos em ilusões enquanto elas duram, cegos da realidade futura, nada cientes de que não duram eternamente.
E de repente tudo desaba. De repente cai-se na real. Acorda-se do sonho que nunca vai voltar. E é definitivo.
E aquilo que albergou esses bons tempos em que levitámos, lá continua...
O seu físico ainda se mantém bonito, lustroso, sumptuoso, arrogante perante a passagem do tempo. Impassível a qualquer tipo de sentimento.
Mas o seu interior já está apodrecido... e num grau de decomposição cada vez maior... que já quase não é possível acreditar que alguma vez tenha albergado algum momento daqueles.
De verde rebento, passou para um estado mais maduro e suculento... que ao não ser sustentado no futuro, apodreceu...
E nada volta mais a ser como era.
Agora é acarretar com as consequências.
Tudo se desintegra. Até a nossa memória.
E agora vem a apatia.
A apatia e a indiferença. Face tudo e face a todos.
E vem com um olhar perdido e vazio. Com uma expressão oca, opaca e morta.
Um olhar de nada, para o nada. Gestos baços e movimentos reticentes.
Às vezes é para isso que se caminha. Às vezes é assim que se fica...