Tenho quarenta janelas nas paredes do meu quarto
Sem vidros nem bambinelas, posso ver através delas, o mundo em que me reparto
Por uma entra a luz do Sol, por outra a luz do luar
Por outra a luz das estrelas, que andam no céu a rolar
Por esta entra a Via Láctea como um vapor de algodão
Por aquela a luz dos homens, pela outra a escuridão
Pela maior entra o espanto, pela menor a certeza
Pela da frente a beleza que inunda de canto a canto
Pela quadrada entra a esperança de quatro lados iguais
Quatro arestas, quatro vértices, quatro pontos cardeais
Pela redonda entra o sonho, que as vigias são redondas
E o sonho afaga e embala à semelhança das ondas
Por além entra a tristeza, por aquela entra a saudade
E o desejo, e a humildade, e o silêncio, e a surpresa
E o amor dos homens, e o tédio, e o medo, e a melancolia
E essa fome sem remédio a que se chama poesia
E a inocência, e a bondade, e a dor própria, e a dor alheia
E a paixão que se incendeia, e a viuvez, e a piedade
E o grande pássaro branco, e o grande pássaro negro
Que se olham obliquamente, arrepiados de medo
Todos os risos e choros, todas as fomes e sedes
Tudo alonga a sua sombra nas minhas quatro paredes
Oh janelas do meu quarto, quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta, falta-me a luz e o ar…
1 comentário:
I wish you a wonderful weekend
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