13 maio 2011

Janelas de Lisboa...


Tenho quarenta janelas nas paredes do meu quarto

Sem vidros nem bambinelas, posso ver através delas, o mundo em que me reparto


Por uma entra a luz do Sol, por outra a luz do luar

Por outra a luz das estrelas, que andam no céu a rolar


Por esta entra a Via Láctea como um vapor de algodão

Por aquela a luz dos homens, pela outra a escuridão


Pela maior entra o espanto, pela menor a certeza

Pela da frente a beleza que inunda de canto a canto



Pela quadrada entra a esperança de quatro lados iguais

Quatro arestas, quatro vértices, quatro pontos cardeais


Pela redonda entra o sonho, que as vigias são redondas

E o sonho afaga e embala à semelhança das ondas


Por além entra a tristeza, por aquela entra a saudade

E o desejo, e a humildade, e o silêncio, e a surpresa


E o amor dos homens, e o tédio, e o medo, e a melancolia

E essa fome sem remédio a que se chama poesia



E a inocência, e a bondade, e a dor própria, e a dor alheia

E a paixão que se incendeia, e a viuvez, e a piedade


E o grande pássaro branco, e o grande pássaro negro

Que se olham obliquamente, arrepiados de medo


Todos os risos e choros, todas as fomes e sedes

Tudo alonga a sua sombra nas minhas quatro paredes


Oh janelas do meu quarto, quem vos pudesse rasgar!

Com tanta janela aberta, falta-me a luz e o ar…


António Gedeão

1 comentário:

Anónimo disse...

I wish you a wonderful weekend